quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A Sombra

Estava sentado em mais um café da cidade, era um dia de sol apesar da leve chuva, tomava pausadamente gole à gole o seu café gelado, quando escutou de longe um murmúrio de vozes femininas, porem só via uma sombra no chão por traz da porta aberta. Percebeu ser uma sombra de mulher, era uma sombra alta, magra, tinha longos cabelos, calçada com salto alto e vestida de sobretudo vermelho... imaginará vermelho, pois pra ele vermelho combina perfeitamente com belas mulheres... Enquanto o tom dessas vozes aproximava-se, aumentava a sua curiosidade em ver materializado aquela imagem no chão. A sombra se mexia, apoiada com o calcanhar sobre o salto parecia dizer não mexendo de um lado a outro, abriu a sombrinha... Ele deu mais um gole dessa vez demorado no café... Como será ela? Pensava ser uma mulher bela, elegante... esperava ancioso para que ela saisse de traz da porta... sentiu um cheiro doce de flores junto do seu café, olhou rapidamente para o chão e a sombra não estava mais lá.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Cabelos Pixaim

Quando eu era pequena me chamavam de nêga do cabelo pixaim, era esquisito o tom dessas vozes: "nêga do cabelo pixaim...", eu não gostava dessa expressão, e me perguntava a todo momento o porque sou diferente se tenho olhos, pés e mãos?
Perguntei a minha mãe se eu era nêga do cabelo pixaim e ela disse: minha filha você não é isso não, você é café com leite, eu sou o leite que se misturou no café que é seu pai... Achei engrançado, pela primeira vez pude perceber qual era a cor da minha cor.
Depois de tantos desencontros em mim, hoje eu sei quem sou e digo a todos que sou NEGRA, NEGRA DOS CABELOS PIXAIM!

sábado, 3 de outubro de 2009

Tudo no mesmo lugar...

Despertou com um raio de sol direto em seus olhos... Que horas são? Olhou no celular que nem ouviu quando o alarme soou e percebeu que estava atrasada... levantou de salto e já estava no banheiro... Que água fria!!! Perfeita para despertar da preguiça... escolheu a roupa sem propósitos... estava afim de sair simples, básica... só não se esqueceu de disfarçar as olheiras... nos olhos lápis preto, rímel e corretivo... Hum que cansaço!!! Pegou o ônibus, outro e foi para seu destino... estava muito atrasa... Onde será a sala meu Deus? Aqui é a sala da palestra? E um olhar familiar que vinha de alguém que estava já dentro, sentado, sorriu... É!... Já acabou? ... Demos um intervalinho e já já retomaremos com a palestra.... E se olharam fixamente... estranhamente... Ela teve a sensação que o conhecia de algum lugar... e Ele... Acho que te conheço de algum lugar?... Eu também!... Como se chamas? E a palestra deixou de existir... só os olhares Dele pra Ela... Dela pra Ele permaneciam... não se sabe quanto tempo passaram assim... um para o outro... e no fim... Tchau!... Adeus!... E dois simples beijinhos errados de cada lado da bochecha separaram todo aquele clima de estranhamento... Ela saiu com uma sensação esquisita de quem não queria ir... queria ficar... Porque estou com minhas mãos tão frias? Meu coração está acelerado! Pra onde será que Ele vai agora? Deixa disso menina... que coisa feia... E foi esperar a condução... subiu, pagou a passagem e sentou-se do lado da janela olhando o horizonte perdida em pensamentos Dele... foi interrompida abruptamente por uma voz que reconhecera imediatamente... Posso sentar? Era Ele... ficou paralisada, extasiada, quase que uma aparição... não conseguia responder... Ele sentou se ajeitou, se acomodou... Ela engolia seco, temia que Ele pudesse ouvir seus pensamentos... olhos nos olhos... olhos na boca... e o silêncio à perturbava... Você é linda sabia? ... seus olhos são atraentes , convidativos... ... ... olhos nos olhos... ... ... Onde estão meus pensamentos? Ela não conseguia mais raciocinar só sentia o coração palpitar cada vez mais forte... sua respiração estava tão profunda que era audível... Ela podia sentir o calor que saia dos braços Dele... e podia perceber cada gotícula de suor que se formava... nas mãos, na polpa do braço, no ombro Dele... ... olhos nos olhos... ... Queria te beijar, sabia?... Tomou de um susto essa frase no ouvido Dela... Não posso, não posso... seus pensamentos gritavam, mais o coração Dela não ouvia... palpita fortemente mais e mais... Ela olhou rapidamente para todo o ônibus, estava vazio, o cobrador dormia... Ela sorriu meio de lado quando percebeu a cabeça do cobrador pendendo de um lado para outro, pescando... e quando voltou seus olhos para o Dele... um beijo... roubado... Não!!! Porque?... olhos na boca... lábios nos lábios... e foram ficando mais intensos... mais molhados... e não eram mais beijos... eram mãos... corpos... olhos nos olhos... e Ele dentro Dela... mais uma vez não se sabe quanto tempo passaram assim... Hã???!!!... Ela saltou de lado ajeitando a roupa desconfiadamente... Ele também... um barulho da catraca girando os fizeram despertar... Estamos no ônibus??? Alguém acabara de subir sentando paralelo a Eles... Boa noite!... Boa... e sorriram entre lábios desconfiados... seus corpos repletos de desejo... silêncio... olhos nos olhos... nenhuma palavra... nenhum pensamento... só os corpos vibravam a canção dos amantes... o vento que vinha de fora entrava friamente pela janela Ela olhava para o horizonte... Ele olhava pra Ela... Tá friozinho... e o vento frio pouco a pouco foi esfriando também seus corpos... mais não o pensamento... não o desejo... olhos nos olhos... Vem comigo? Não posso... Porque?... silêncio... Ele a olhava com tanto mistério... tanto desejo... Já esta perto do meu destino... tenho que descer... E não saia dos lábios Dela uma palavra... Vem comigo... vem... não vamos pensar em nada apenas viver esse momento... vem passar essa noite comigo? Vem?... E se aproximava o seu destino... Eles sentiam que era sim ou nunca... Ela sabia que se não fosse não o veria nunca mais... seu coração palpitava... sua mente estava confusa... medo? desejo? Ela não sabia mais de si mesma... Vem? Ele a segurou fortemente pelo braço, Ela não se movia.... Vem? Por favor vem... olhos nos olhos fixamente... Vem?... O ônibus parou, Ele desceu... nos seus olhos Ela pode ver desejo e decepção... engoliram seco... calados... agora distantes... pela janela Ela o via parado, esperando... o ônibus deu partida e se olharam até o olhar não poder mais... Ela seguiu perdida sua viajem presa na paisagem com a mente em branco, o coração acelerado, e os lábios secos... só voltou a si quando viu da esquina a porta de entrada da sua casa... Já cheguei!? entrou silenciosa, tirou as sandálias, foi direto para o banheiro, tomou um banho demorado... perdido... saiu do chuveiro... e a casa exalou o perfume de sabonete de flores que saia Dela, abriu a porta do quarto... seu filho dormia... o beijou, o cobriu, fechou a porta levemente... abriu a porta do seu quarto, percebeu ali que tudo estava no mesmo lugar, na mesma ordem de sempre... levantou o lençol que estava quentinho, abraçou o corpo que reconhecia a quase duas décadas de casamento... respirou fundo... sentiu-se em segurança... em paz... hum... já chegou?... Como foi seu dia?... Boa noite amor!... Boa noite!